Você sabia que, aproximadamente, 9,3% da população brasileira vive com diabetes? Segundo dados da Federação Internacional de Diabetes (IDF), o Brasil é o quinto país com maior incidência de diabéticos no mundo, perdendo apenas para China, Índia, Estados Unidos e Paquistão.
Para saber um pouco mais a respeito dessa doença que vem se tornando um sério problema de saúde pública no Brasil e no mundo, confira a seguir a entrevista com o Endocrinologista Flávio Santos Ladeira, que esclarece as principais dúvidas sobre o assunto.
- O que é diabetes?
Diabetes é uma doença multifatorial caracterizada pelo aumento da glicose no sangue, ou seja, o aumento dos níveis de açúcar no sangue. Ela pode ocorrer devido a uma deficiência total ou parcial da ação do hormônio insulina. E, em alguns casos, quando o organismo do paciente (apesar de produzir a insulina) apresenta uma resistência à ação do hormônio em seu corpo.
Podemos considerar como diabética uma pessoa que tem uma glicemia em jejum maior ou igual a 126 mg/dl.
- Qual a diferença entre os diabetes tipo 1 e 2?
O diabetes tipo 1 geralmente acomete mais crianças, adolescentes e adultos jovens. Ela é caracterizada pela falta total ou quase total da insulina, causada por um mecanismo autoimune de destruição do pâncreas. Nesse caso, o organismo da pessoa destrói as células produtoras de insulina, fazendo com que seu pâncreas não consiga mais produzir a quantidade de insulina necessária para regular os níveis de glicose no sangue.
Já o diabetes tipo 2 é caracterizado por uma deficiência parcial da produção de insulina ou em casos em que o paciente apresenta resistência à ação da insulina produzida em seu organismo.
- Quais são os principais sintomas do diabetes? E em crianças?
Os sintomas são mais característicos quando o paciente apresenta níveis glicêmicos no sangue mais elevados, uma vez que quando a doença está no início (principalmente nos casos do tipo 2), em que os níveis ainda não estão tão altos, o organismo consegue se adaptar a isso e não apresenta sinais.
Porém, quando os níveis estão mais elevados, acima de 200 mg/dl, os principais sintomas são:
- Emagrecimento;
- Muita sede;
- Urina em excesso, inclusive de noite;
- Boca muito seca;
- Mal-estar e desânimo.
- Quais as causas mais comuns do diabetes?
O diabetes tipo 1 se trata de uma doença autoimune, no qual o próprio organismo destrói as células produtoras de insulina do pâncreas. Já no diabetes tipo 2, apesar das características genéticas influenciarem, o desenvolvimento da doença está diretamente ligada ao estilo de vida da pessoa, como sedentarismo, alimentação errada (às custas de muito carboidrato), obesidade, dentre outras.
- Com que periodicidade uma pessoa saudável deve realizar o exame de glicemia?
Para uma pessoa que não tem histórico na família, não tem sintomas, tem um estilo de vida saudável, o recomendado é fazer, pelo menos, uma vez ao ano. Mas para as pessoas que já começam a ter uma glicemia em jejum alterada (ou seja, entre 100 e 126 mg/dl – chamada de intolerância à glicose) e têm uma tendência a desenvolver o diabetes ou tem histórico na família, o ideal é fazer o exame a cada quatro meses; no máximo, a cada 6 meses.
- Quais os sinais de alerta?
Como falado acima, o organismo tenta compensar a glicemia alterada e ele consegue até, mais ou menos, 200 mg/dl. Por isso o exame anual é fundamental. Mas é importante ficar atento ao emagrecimento, excesso de sede; boca seca; desânimo e também à urina em excesso. No caso da urina, como o organismo tenta eliminar o excesso de açúcar através dela, muitas vezes as pessoas notam também o aparecimento de formigas em algum respingo no vaso sanitário, por exemplo.
- O diabetes tem cura?
Teoricamente, o diabetes tem controle. A medida que a pessoa desenvolve a doença, ela tem como controlar e evitar que ele progrida, através da insulina, mudanças no estilo de vida, medicamentos. A cura só poderia vir através de um transplante do pâncreas, para casos do tipo 1, ou através de tratamento com células-tronco, no qual seriam reconstruídas as células produtoras de insulina do pâncreas.
Hoje em dia, tem-se estudado muito sobre isso, principalmente no caso do diabetes tipo 1. As pesquisas com células-tronco estão em estágio bem avançado, mas ainda não temos a cura. Mas eu acredito que, com o avanço desses estudos, pode ser que tenhamos sim a cura para a doença.
- Qual o tratamento indicado?
No caso do diabetes tipo 1 o tratamento é, necessariamente, com insulina, pois o corpo precisa repor esse hormônio. Já no tipo 2, consiste em estimular a produção de insulina, melhorar a ação da insulina no organismo, diminuindo a resistência insulínica, e também a mudança no estilo de vida, buscando sempre uma alimentação mais saudável e a prática de exercícios físicos regulares.
- Quais as possíveis complicações do diabetes?
O diabetes quando é mal controlado, mal conduzido e a pessoa não segue corretamente as orientações, não usa os medicamentos da forma adequada (inclusive em se tratando da dosagem correta), pode causar as seguintes complicações:
- renais, como a nefropatia diabética, que pode levar o paciente a necessitar de hemodiálise;
- microvasculares, de circulação, que levam à amputação de membros;
- oftalmológicas, como a retinopatia diabética, que pode levar à cegueira.
Essas destacadas acima são as principais complicações que o paciente pode apresentar, fora o conjunto de vários outros problemas que podem estar associados ao diabetes. Como, por exemplo, o aumento de colesterol, triglicérides, que, consequentemente, aumenta o risco de doenças cardiovasculares.
- Os medicamentos são fornecidos pelo SUS gratuitamente? Se sim, como a pessoa deve proceder para conseguir receber os medicamentos?
O SUS fornece os medicamentos principais, tanto a insulina NPH, quanto a insulina regular e também os hipoglicemiantes orais, que são os comprimidos que fazem abaixar o diabetes. Inclusive, vários também são encontrados na farmácia popular. Porém, o tratamento do diabetes evoluiu muito e, hoje em dia, já existem alguns medicamentos novos que ainda não são contemplados pelo SUS.
Para conseguir os medicamentos pelo SUS, geralmente, é necessário que a pessoa tenha a receita e o medicamento costuma ser dado para o mês. E, mensalmente, a pessoa precisa pegar esses medicamentos na rede de saúde do seu município. No entanto, quando o medicamento tem um custo mais elevado, monta-se um processo e, a partir disso, avaliam se a prefeitura ou o SUS podem fornecê-lo.
- Quais cuidados devemos ter para evitar o diabetes?
O paciente diabético, geralmente, é uma pessoa pré-disposta a desenvolver a doença (algum fator genético, histórico familiar). Para evitar, é necessário que ela preze por um estilo de vida saudável, com boa alimentação e a prática de atividades físicas regularmente.
Caso a pessoa desenvolva o diabetes, logo no início, é de extrema importância procurar ajuda médica e não esperar que a doença evolua para buscar tratamento.
- Como a alimentação e a prática de exercício podem ajudar na prevenção à diabetes?
O estilo de vida saudável previne e/ou retarda o surgimento do diabetes naquele paciente pré-disposto. A atividade física ajuda o organismo a utilizar a insulina produzida e a boa alimentação, evitando o carboidrato, açúcar e guloseimas de forma geral, auxilia na prevenção da doença.