No início da pandemia do novo coronavírus, diante da dificuldade de se estabelecer protocolos assertivos, diversos serviços de saúde respeitados no mundo incluíam em seus protocolos o uso de antibiótico em pacientes com suspeita ou confirmação de infecção pela Covid-19, por um suposto efeito imunomodulador da droga e pela possibilidade de infecção bacteriana associada (coinfecção).
De acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia, essa diretriz foi seguida em um primeiro momento, porque muitos médicos usaram seu conhecimento prévio sobre gripe (no qual os índices de coinfecção são altos, cerca de 30 a 40% dos casos) para tratar os pacientes com coronavírus.
No entanto, estudos realizados ao longo da crise sanitária sugeriram que, no caso da Covid-19, a taxa de coinfecção gira em torno de 13%, o que não justificaria a recomendação de antibiótico para qualquer paciente com a doença. Mesmo diante dessa evidência, o medicamento em questão foi amplamente usado durante a pandemia, o que impulsionou o surgimento de variantes bacterianas resistentes a tratamento, as chamadas “superbactérias”.
Preocupada com esse futuro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou, em maio do ano passado, um guia para tratamento de covid-19 que, entre outros pontos, recomendou expressamente a não utilização dos antibióticos no tratamento da nova doença em casos suspeitos ou leves. E mesmo para casos moderados, a entidade indicou que o uso só deve ser feito após indícios de uma infecção bacteriana.
Qual o efeito negativo causado pelo uso desenfreado de antibióticos?
O uso indiscriminado de antibióticos pode alterar a resistência das bactérias que causam doenças e tornar o medicamento ineficaz no seu combate. E os efeitos preocupantes do amplo uso desses remédios poderiam se expressar tanto a nível individual, quanto a nível comunitário.
Segundo a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), a resistência antimicrobiana põe em risco a eficácia da prevenção e do tratamento de um número crescente de infecções por vírus, bactérias, fungos e parasitas. Como resultado, os medicamentos se tornam ineficazes e as infecções persistem no corpo por mais tempo, aumentando o risco de propagação a outras pessoas.
Medidas que podem contribuir para evitar ou diminuir a resistência
- Nunca use antibióticos sem a indicação do médico ou dentista;
- Use a dose que foi prescrita e nos horários corretos (usar doses maiores não acelera a cura);
- Nunca pare o tratamento antes do prazo indicado, mesmo que os sintomas tenham melhorado;
- Não use antibióticos fora do prazo de validade (podem não fazer efeito e causar resistência bacteriana);
- Evite guardar sobras de antibióticos em casa, pois a quantidade geralmente não é suficiente para um novo tratamento.